Brasília, a cidade construída com dinheiro e sangue

Brasília nasceu sob a promessa de progresso, mas foi construída com sangue, suor e silêncio. É a história que o Estado tentou sepultar junto com os corpos — e que agora, enfim, começa a ser desenterrada.

Se você já encarou a famosa Esplanada dos Ministérios, talvez tenha se perguntado: "quanto custou toda essa grandiosidade modernista aos cofres públicos?" Pois bem, prepare-se para números que fariam qualquer um arrancar os cabelos em desespero. Como sempre defendemos, quando o Estado resolve fazer algo grandioso, é a população que paga a conta - e neste caso, que foi muito pior, pagamos com dinheiro e sangue.
Muitos não ousam falar a verdade, mas a construção de Brasília consumiu 12,3% do PIB brasileiro no ano de 1959. Para você ter uma ideia do que isso significa, se fôssemos construir algo equivalente hoje, gastaríamos R$ 1,44 trilhão - um valor 33% maior que toda a despesa com previdência prevista para 2025. E isso é apenas o custo financeiro inicial, sem contar as vidas humanas sacrificadas no altar da nova capital que estava sendo construída para encastelar e proteger a elite estatal num local distante do povão.
Um dos episódios mais sombrios dessa história, sistematicamente apagado pela versão oficial, foi o chamado "Massacre da Pacheco Fernandes", ocorrido em 8 de fevereiro de 1959, em pleno carnaval. Enquanto a maioria dos brasileiros se divertia nas festividades, os operários que construíam a nova capital viviam um verdadeiro inferno, sendo massacrados por policiais. Para contextualizar a vida difícil desses trabalhadores, as jornadas de trabalho eram extenuantes de até 18 horas, os alojamentos infestados de pulgas e percevejos, os sanitários eram buracos no chão cobertos com lona e os colchões de capim que precisavam ser queimados regularmente devido aos parasitas - esse era o dia a dia dos chamados "candangos". A gota d'água veio quando alguns trabalhadores tiveram a "audácia" de reclamar da comida estragada que lhes era servida no refeitório da construtora Pacheco Fernandes. A resposta do Estado? Uma chacina. A Guarda Especial de Brasília, a GEB, formada por jagunços sem treinamento adequado, invadiu os alojamentos durante a noite e executou dezenas de operários enquanto dormiam. 
As condições oferecidas pelas construtoras aos seus operários eram muito precárias, segundo a professora Nair Bicalho, da Universidade de Brasília (UnB), autora do livro "Construtores de Brasília", que narra a trajetória desses trabalhadores. A versão oficial, aquela que o governo brasileiro quer que acreditemos, fala em apenas uma morte e 48 feridos. Mas os relatos de testemunhas, coletados pela professora Nair Bicalho, mencionam dezenas de operários mortos, com seus corpos sendo recolhidos em caminhões basculantes e depositados em lugar desconhecido. Cerca de 120 malas nunca foram buscadas nos alojamentos. Coincidência? Acredite quem quiser!
E por que esse evento não foi amplamente noticiado? Infelizmente, apenas dois jornais - O Binômio, de Belo Horizonte, e O Popular, de Goiânia - tiveram a coragem de divulgar o ocorrido. A imprensa tupiniquim preferiu se curvar aos poderosos do poder político, protegendo a imagem da nova capital que estava prestes a ser inaugurada. Afinal, um massacre como esse, se viesse à tona, traria graves prejuízos políticos aos planos faraônicos de Juscelino Kubitschek de Oliveira e a sua imagem pessoal. Pois é, aquela propaganda linda sobre o presidente JK e tudo o que ele fez de bom para o Brasil, é mais uma das narrativas estatais, afinal, não há nada que um político possa fazer que não seja com seu dinheiro.
É impressionante como figuras aclamadas como o famoso arquiteto Oscar Niemeyer e o urbanista Lúcio Costa alegaram desconhecer completamente o massacre. Seriam eles realmente ignorantes quanto ao sangue que manchava suas obras, ou apenas convenientes colaboradores do pacto de silêncio? Infelizmente, tudo vale para manter a biografia intacta, e é isso o que temos visto por parte de pessoas que se aliam a políticos em troca de ganhos financeiros e prestígio.
Voltando aos números astronômicos: o engenheiro e economista Eugênio Gudin, um dos raros defensores do liberalismo econômico em uma época dominada pelo desenvolvimentismo estatista, já alertava em 1960 que essa obra faraônica custaria US$ 1,5 bilhão de dólares - o equivalente a US$ 16 bilhões nos dias atuais, ou R$ 94 bilhões de reais em valores atualizados nossa moeda. Mas até esse cálculo soa modesto quando comparado com outros mais recentes.
Se fizermos a conversão pelo Cruzeiro, a moeda da época, e atualizarmos pelo IGP da Fundação Getúlio Vargas, chegamos a R$ 106 bilhões - mais que o dobro do valor que os parasitas do Congresso Nacional conseguiram emplacar em emendas parlamentares para 2025. Já parece um absurdo, não é? Mas aguarde, porque a história fica ainda pior.
O economista e jornalista Ib Teixeira foi mais longe e calculou o custo total de Brasília desde sua fundação até 1996: impressionantes US$ 155 bilhões de dólares, que atualizados pela inflação americana chegam a US$ 316 bilhões ou R$ 1,86 trilhão de reais. Como ele mesmo escreveu: "O aluvião monetário para cobrir os gastos de Brasília não parou em 1961". E como bom libertário, você sabe de onde veio esse dinheiro todo, não é? Dos seus bolsos, dos bolsos dos seus pais e avós e das gerações posteriores que tiveram sua moeda desvalorizada pela inflação.
Não bastasse o massacre, anos depois, o Estado brasileiro ainda removeu mais de 80 mil famílias das áreas próximas aos monumentos, realocando-as para zonas distantes do centro da capital, sem qualquer amparo. Esses trabalhadores que literalmente construíram a capital federal com o próprio suor - e, em muitos casos, com o próprio sangue - não eram dignos de morar perto das autoridades que eles ajudaram a instalar.
É claro que os defensores do Grande Leviatã sempre encontram justificativas para amenizar essa situação desumana que milhares de pessoas enfrentaram. O economista Carlos Eduardo de Freitas, por exemplo, alega que Brasília favoreceu o desenvolvimento econômico do país com a integração do Centro-Oeste e do Norte às outras regiões. Ele menciona a famosa Belém-Brasília, estrada de 2.000 km construída no governo JK, e o surgimento da produção agrícola nessas regiões.
Mas aí temos que fazer a pergunta que nenhum estatista quer ouvir: era realmente necessário construir uma cidade inteira do zero, no meio do nada, para fazer estradas e integrar o interior? Ou seria mais eficiente deixar o mercado alocar recursos de maneira natural, permitindo que o desenvolvimento ocorresse de forma orgânica, seguindo as reais necessidades econômicas? Era necessário massacrar trabalhadores para ter uma capital supostamente moderna? E os crimes que nunca foram apagados? E as vidas perdidas?
Essa é a face verdadeira do Leviatã estatal brasileiro: constrói monumentos grandiosos com o suor de milhares, silencia quem reclama com balas, enterra os corpos discretamente, reescreve a história para que as futuras gerações não saibam o preço humano de suas obras faraônicas, e depois, ainda envia a conta estratosférica para os contribuintes pagarem. Mas que grande negócio!
Agora, vamos aprofundar um pouco mais essa questão, entendendo o objetivo político por trás desse grande projeto. O que poucos discutem é que a construção da capital federal foi, acima de tudo, um projeto de centralização do poder político. Ao mover a capital para o meio do cerrado, isolada das principais metrópoles e da pressão popular, os políticos conseguiram criar seu próprio paraíso burocrático, onde as decisões que afetam a vida de centenas de milhões de brasileiros são tomadas a portas fechadas. Isso os mantém bem distantes dos olhos dos pagadores de impostos que são roubados diariamente, e de todos que sofrem com as decisões dessa elite política.
O resultado disso? Uma verdadeira bolha de privilégios, onde servidores públicos ganham em média três vezes mais que trabalhadores do setor privado, tendo direito a apartamentos funcionais subsidiados que garantem moradia de luxo para a elite política. É o paraíso do parasitismo estatal, construído com sangue de operários e dinheiro do pagador de impostos.
E quem acha que isso é exagero nosso, basta olhar para os índices de desenvolvimento humano e renda per capita do Distrito Federal. Enquanto o IDH médio do Brasil em 2024 está em 0,77, o de Brasília bate em 0,86 - o mais alto do país. Já a renda per capita do brasiliense é quase o dobro da média nacional: O rendimento domiciliar per capita do Distrito Federal é 77% maior que a média do país. Na capital do país, o indicador alcança R$ R$ 3.357, enquanto o indicador nacional fica em R$ 1.893. Seria isso resultado de uma economia pujante e produtiva? Claro que não! É resultado da transferência massiva de recursos do restante do país para sustentar a burocracia instalada na capital federal.
Outro aspecto que merece atenção é a inflação galopante que se seguiu à construção de Brasília. Para bancar a obra faraônica, o governo de JK imprimiu dinheiro sem lastro, desencadeando um processo inflacionário que corroeu o poder de compra dos brasileiros por décadas. O "50 anos em 5" teve seu preço, e não foi o governo que pagou - foram os trabalhadores que viram o valor de seus salários derreter mês após mês. A inflação, esse imposto silencioso que afeta principalmente os mais pobres, foi o complemento perfeito para o financiamento de da capital do país.
A própria estrutura urbana da cidade revela seu caráter autoritário e antilibertário. Com seus amplos espaços planejados, que dificultam manifestações populares, suas avenidas largas que facilitam a repressão policial, e seu isolamento geográfico que mantém a população comum longe dos centros de decisão, Brasília foi projetada como uma cidade anti-povo. Não é à toa que durante os protestos, como os ocorridos em junho de 2013, a Esplanada dos Ministérios foi facilmente isolada e controlada pelas forças de segurança.
A mesma Guarda Especial de Brasília que massacrou operários inocentes em 1959, foi a semente das futuras forças de segurança que, ao longo da história, continuaram servindo ao Estado contra o povo. A repressão violenta aos protestos, o controle rigoroso dos espaços públicos e a blindagem da classe política são heranças diretas daquele modelo inicial de segurança implementado durante a construção da capital.
E o que dizer dos contratos bilionários que enriqueceram empreiteiras e políticos durante a construção? As mesmas empresas que edificaram Brasília se tornaram, décadas depois, protagonistas dos maiores escândalos de corrupção da história do país. O modelo de relação promíscua entre Estado e grandes construtoras nasceu ali, no cerrado, e se espalhou como um câncer para todo o sistema político brasileiro.
Quando analisamos friamente, percebemos que Brasília não é apenas uma cidade - é um símbolo de tudo o que o libertarianismo combate: centralização de poder, gastos excessivos do Estado, violência institucional, privilégios para a classe política, e a subjugação do indivíduo aos interesses dos poderosos. Cada prédio monumental da capital federal representa não apenas o gênio arquitetônico de seus criadores, mas também o sangue dos construtores e o suor dos pagadores de impostos que foram obrigados a financiar esse delírio estatista. Não dá para negar que essa grande obra foi um planejamento estilo soviético que apenas teve prejuízos aos brasileiros.
Por isso, da próxima vez que você ouvir alguém elogiando a cidade de Brasília como "patrimônio da humanidade" ou "obra-prima da arquitetura moderna", lembre-se dos operários assassinados na calada da noite por terem reclamado de comida estragada. Lembre-se dos mais de 12% do PIB gastos em uma obra que poderia ter sido evitada e da inflação que corroeu a economia brasileira nas décadas seguintes. E não se esqueça das 80 mil famílias expulsas para a periferia e dos R$ 1,86 trilhão de reais, em valores atualizados, que continuamos pagando até hoje.
Enfim, Brasília não é apenas a capital do Brasil - é o monumento máximo ao estatismo predatório, construído com sangue e trilhões de reais. Enquanto não reconhecermos isso, continuaremos reféns da mesma mentalidade que assassina quem reclama e depois esconde os corpos. Porque, no fim das contas, a verdadeira função do Estado não é proteger direitos, mas sim garantir privilégios e concentrar renda e poder nas mãos de poucos - mesmo que para isso seja necessário massacrar dezenas de milhares e gastar trilhões do povo.


Referências:

https://www.brasildefato.com.br/2020/02/01/crime-oculto-o-massacre-que-tentaram-apagar-da-historia-da-construcao-de-brasilia/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Guarda_Especial_de_Bras%C3%ADlia
https://www.brasildefato.com.br/2020/02/01/crime-oculto-o-massacre-que-tentaram-apagar-da-historia-da-construcao-de-brasilia/#:~:text=O%20chamado%20massacre%20da%20construtora,at%C3%A9%20mesmo%20a%20sua%20exist%C3%AAncia.
https://www.poder360.com.br/brasilia/construcao-de-brasilia-custou-12-do-pib-brasileiro/