Um comerciante cearense foi morto após não conseguir pagar o valor exigido por uma facção criminosa para manter seu pequeno negócio funcionando. A tragédia escancara a dura realidade: o brasileiro vive sob a exploração de duas máfias — o crime organizado
O caso que vamos abordar aqui é, infelizmente, o retrato do que há de mais trágico e doentio no Brasil. Alexandre Roger Lopes, de apenas 23 anos, vendia espetinhos na porta de casa em Itapajé, interior do Ceará. Jovem trabalhador, sonhador e determinado a prosperar, foi alvo da violência covarde de uma facção criminosa. Durante meses, Alexandre vinha sendo extorquido por membros de um grupo ligado ao Comando Vermelho, que cobrava dele uma taxa mensal de R$ 400 para permitir que continuasse operando seu pequeno negócio. Era a chamada “taxa de proteção”, eufemismo para extorsão pura e simples.
Recentemente, porém, os criminosos aumentaram a cobrança para R$ 1.000 por mês. Sem condições de arcar com o novo valor, Alexandre decidiu enviar apenas os R$ 400 que já pagava. Essa atitude, vista como desafio, custou-lhe a vida. No dia 17 de agosto, um executor da facção se aproximou de seu espetinho dizendo ter uma ligação para ele. Ao pegar o celular e virar de costas, Alexandre foi friamente executado. Ainda chegou a ser socorrido e levado a hospitais, mas morreu no dia 19 de agosto.
O caso gerou revolta e comoção, mas também levanta uma questão incômoda: até que ponto o Estado brasileiro é diferente da facção que assassinou o comerciante? O discurso oficial fala em combate ao crime, defesa da ordem e garantia da segurança. Mas, na prática, o Estado também age como uma facção que cobra taxas obrigatórias — chamadas de impostos — e pune de forma brutal quem não obedece. Se você não pagar impostos e resistir à prisão, poderá ter o mesmo destino de Alexandre.
(Sugestão de Pausa)
As semelhanças entre o aparato estatal e o crime organizado não são meras figuras de linguagem. Ambos exigem pagamento em troca de “proteção”. Se você não paga o imposto, o Estado bloqueia seus bens, toma sua casa, fecha seu negócio ou prende você. Se não paga a facção, ela manda executores para destruir seu comércio ou tirar sua vida. Em ambos os casos, o mecanismo é o mesmo: medo e coerção, nunca relações voluntárias de troca.
A morte de Alexandre é um crime bárbaro e revela a falência da segurança estatal, que não protege ninguém. Quando olhamos para o funcionamento da máquina pública, percebemos que a diferença entre facção e governo é apenas de forma, não de essência. O Estado se diz “legítimo” e “legal”, mas apenas porque escreveu suas próprias regras e chamou de “lei” a sua extorsão. No fundo, imposto nada mais é que a mesma taxa de proteção cobrada por facções, só que com burocracia, crachás e carimbos.
O mais irônico é que, enquanto lutava para sobreviver com seu negócio, Alexandre provavelmente já pagava todos os tributos que o governo exigia: taxas municipais, alvará, INSS, ICMS embutido em cada compra, imposto de renda e assim por diante. Isso sem falar na burocracia, que funciona como chantagem institucionalizada. Aí fica a pergunta: tem como um país desses dar certo? No Brasil, não basta produzir; é preciso pedir permissão ao Estado, pagar taxas para abrir e manter o negócio — e, mesmo assim, não há garantia de segurança. Alexandre pagava ao Estado e ainda tinha que pagar à facção. Duas máfias cobrando pelo mesmo “serviço” compulsório de permitir que ele trabalhasse em paz.
Todo esse dinheiro deveria, em tese, garantir segurança, manter a polícia funcionando e proteger a população contra criminosos. No entanto, quando Alexandre realmente precisou, quem apareceu primeiro foi a facção, exigindo pagamento extra. Por isso, comerciantes de Itapajé vivem com medo, muitos fogem da cidade e a economia local se retrai. No fim, todos os habitantes saem prejudicados, com menos negócios e empregos.
(Sugestão de Pausa)
Se olharmos para a história, veremos que essa sempre foi a lógica das máfias: oferecer “proteção” em troca de pagamento compulsório. Nos EUA da Lei Seca, gangues controlavam bairros inteiros cobrando “taxas” de comerciantes. Na Itália, a máfia siciliana nasceu assim: cobrando de fazendeiros para que suas plantações não fossem saqueadas. Sempre o mesmo padrão: um grupo armado que não produz nada, mas se impõe pela violência.
O Estado brasileiro faz o mesmo, mas em escala nacional. Cobra impostos não para proteger o cidadão, mas para sustentar a si mesmo e sua elite de burocratas, políticos e apadrinhados. O orçamento público financia mordomias, salários exorbitantes, campanhas eleitorais e esquemas de corrupção. A segurança do cidadão comum é sempre a última prioridade. E quando falha, a resposta é a mesma lógica da facção: aumentar a cobrança. O governo eleva impostos sob a justificativa de que “só com novos investimentos as coisas vão melhorar” — como se a facção tivesse aumentado a taxa de Alexandre de R$ 400 para R$ 1.000 simplesmente porque podia.
Enquanto isso, quem trabalha honestamente precisa escolher: paga ao Estado, paga à facção ou fecha as portas. Muitos desistem, abandonam seus negócios ou até emigram, porque percebem que não há saída dentro desse sistema. É um ciclo de exploração sem fim.
Essa realidade desmonta a narrativa estatal: polícia, aparato de segurança e sistema judiciário, como monopólios do Estado, não têm incentivo real para proteger o cidadão comum. Sua função é proteger a própria máquina estatal, sua arrecadação e os privilégios dos que estão no poder. O comerciante do interior do Ceará é invisível para Brasília. O governo só se importa com os impostos chegando. Se ele morre, vira apenas mais um número em estatísticas.
E se formos honestos, até mesmo os criminosos que mataram Alexandre se beneficiam da falência estatal. A facção cobra porque sabe que o poder público não protege. O Estado não protege porque está ocupado mantendo seus esquemas e arrecadação. O cidadão, esmagado no meio, paga duas vezes: ao governo e ao crime. Essa é a realidade nua e crua do Brasil.
(Sugestão de Pausa)
Muitos consideram exagero dizer que o Estado é apenas outra facção. Mas basta imaginar o que aconteceria se você decidisse não pagar nenhum imposto. Em poucos meses, teria sua conta bloqueada, seus bens confiscados e, se insistisse, seria preso. Resistindo à prisão, poderia até ser morto. Não é diferente da lógica da facção que ameaça, pune e elimina quem desobedece. Hoje, vemos até pessoas comuns, sem crime algum na bagagem, mas após críticas legítimas a membros do judiciário, acabam tendo contas congeladas por um poder arbitrário.
O caso de Alexandre também desmonta o mito da “justiça social”. O Estado se apresenta como defensor dos pobres, mas são justamente eles as maiores vítimas de sua omissão e exploração. Grandes empresários, juízes e políticos conseguem se proteger com seguranças, carros blindados e armas. Já o trabalhador humilde fica exposto à violência de todos os lados. O discurso estatal de justiça não passa de propaganda para justificar mais impostos. E é preciso lembrar: deputados, senadores, governadores, presidente da república e ex-presidentes, desembargadores, ministros da elite do judiciário e demais membros do poder estatal têm acesso a seguranças armados custeados com o dinheiro do povo.
Outro ponto crucial é que o leviatã estatal se beneficia indiretamente da existência das facções. O medo gerado pelo crime organizado é usado como justificativa para ampliar a máquina estatal e arrecadar mais. Cada caso de violência vira desculpa para contratar mais policiais, criar novas leis, instalar câmeras e comprar viaturas — sempre com o dinheiro do contribuinte. Até a violência das facções serve de combustível para a violência institucionalizada do Estado.
A perspectiva libertária oferece outro caminho: em uma sociedade verdadeiramente livre, a segurança não seria monopólio de uma facção ou do Estado. Empresas privadas, competindo entre si, teriam incentivo real para proteger seus clientes, pois só assim manteriam contratos e reputação. Se falhassem, perderiam clientes. Diferente do governo, que cobra de qualquer forma, mesmo falhando miseravelmente.
(Sugestão de Pausa)
O assassinato de Alexandre é o retrato cruel de um sistema falido. Ele representa milhares de pequenos empreendedores que tentam sobreviver entre duas máfias. Estado e facções são faces da mesma moeda, sustentadas pela extorsão do cidadão comum. Enquanto não rompermos com esse modelo, continuaremos enterrando jovens trabalhadores mortos não apenas por balas, mas pela lógica criminosa do monopólio estatal.
No fim das contas, o cidadão brasileiro sempre sai perdendo. Paga por uma proteção que nunca chega, enquanto Estado e crime organizado prosperam às suas custas. Essa lógica só mudará quando entendermos que não precisamos de nenhuma facção com monopólio da violência. O caminho libertário é abrir espaço para arranjos voluntários, descentralizados e competitivos, onde a segurança seja um serviço real, não uma chantagem.
A única diferença é que o Estado mata devagar: suga sua renda ao longo de décadas, impede seu crescimento, sufoca sua liberdade, até que você nem perceba que sua vida inteira foi entregue a um parasita.
A morte de Alexandre não pode ser vista apenas como tragédia isolada. Ela é sintoma de algo maior: um sistema que normalizou a extorsão como forma de organização social. Enquanto aceitarmos passivamente que o leviatã estatal continue cobrando impostos sob a desculpa de que é “para o nosso bem”, estaremos aceitando a mesma lógica da facção que cobra taxa de proteção. O nome muda, mas o princípio é idêntico. E o preço é pago em sangue, suor e vidas interrompidas.
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2025/08/23/suspeito-de-matar-comerciante-em-itapaje-no-ce-e-preso-policia-aponta-que-crime-foi-a-mando-de-faccao.ghtml
https://www.poder360.com.br/brasil/ce-comerciante-e-morto-apos-se-negar-a-pagar-extorsao-de-faccao/
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/seguranca/comerciante-de-itapaje-e-assassinado-apos-pagar-menos-do-que-o-exigido-por-faccao-criminosa-1.3546465
https://www.opovo.com.br/noticias/fortaleza/2025/08/23/itapaje-comerciante-assassinado-apos-extorsao-de-faccao-criminosa.html