Erika Hilton, deputada do PSOL-SP, enfrenta denúncias após empregar dois maquiadores como secretários parlamentares pagos pela verba pública. O caso escancara a contradição de quem critica a burguesia enquanto vive às custas do Estado.
Erika Hilton, deputada federal do PSOL de São Paulo, virou alvo de críticas após denúncias recentes de que ela contratou dois maquiadores profissionais como seus secretários parlamentares, usando recursos públicos. Os fatos foram revelados por grandes veículos de imprensa, que apontaram os nomes dos contratados: Ronaldo Hass e Índy Montiel. Ambos foram lotados no gabinete da deputada e recebem salários mensais pagos pela verba da Câmara dos Deputados. O salário de Ronaldo Hass, segundo dados oficiais da Casa, é de cerca de R$ 9.678,22; já Índy Montiel aufere aproximadamente R$ 2.126,59 por mês. Embora sejam registrados como secretários parlamentares, suas atividades levantam suspeitas: em publicações nas redes sociais, ambos exibem trabalhos de maquiagem realizados para Erika Hilton, o que gerou críticas sobre possível mau uso do dinheiro público.
A bancada de oposição na Câmara, especialmente deputados do PL (Partido Liberal), reagiu rapidamente. Representações foram protocoladas no Conselho de Ética da Casa e no Ministério Público Federal, reivindicando investigação por possível improbidade administrativa. O deputado Paulo Bilynskyj (PL-SP) foi um dos signatários e declarou que as contratações configuram “desvio de finalidade”, afrontando princípios constitucionais como legalidade, impessoalidade, moralidade e eficiência. Parlamentares aliados pediram a cassação do mandato da deputada e o ressarcimento aos cofres públicos dos valores gastos com os salários dos maquiadores.
A notícia tornou-se manchete em portais de grande circulação. O site Metrópoles, por exemplo, detalhou as datas dos contratos: Índy Montiel foi admitido em junho de 2025, e Ronaldo Hass, em maio de 2024. Além das suspeitas de que atuem principalmente como profissionais de beleza, a crítica dos opositores é que eles deveriam exercer atividades legislativas — elaborando projetos, fazendo assessoria de imprensa ou atendendo demandas do mandato — mas na prática aparecem mais ligados às maquiagens da deputada em eventos sociais. Em outras palavras, há dúvidas se desempenham de fato o papel de assessores de gabinete ou se foram nomeados para funções pessoais.
Erika Hilton reagiu classificando tudo como “invenção” e “campanha de desinformação” orquestrada pela chamada “extrema-direita”. Em nota divulgada à imprensa, ela insistiu que os assessores têm funções institucionais e que os trabalhos de maquiagem são meramente atividades pessoais realizadas eventualmente. Segundo a deputada, se eles não mais a maquiarem, continuariam nos cargos como secretários comuns. Ela ressaltou ainda que conheceu os dois profissionais justamente por sua habilidade na maquiagem, mas alegou tê-los contratado por reconhecer outras competências — sem especificar quais. Na visão dela, os salários recebidos estão dentro das normas da Câmara, e as denúncias seriam apenas uma tentativa dos adversários de criar um escândalo político.
Mas, independentemente do debate judicial e político, muitos brasileiros observam esses episódios com indignação: enquanto parcelas carentes da população lutam para sobreviver, lideranças que dizem representá-las desfrutam de privilégios. É paradoxal que representantes da “classe trabalhadora” ou da “esquerda radical” obtenham oportunidades de vida luxuosa através do poder estatal. Este escândalo ilustra bem esse contraste: sob o discurso de combater “a burguesia” e “o capitalismo selvagem”, agentes do próprio aparato público utilizam o estado para fins privados. Pessoas que pregam igualdade e justiça social acabam virando parte da elite e, a grosso modo, praticam eles mesmos aquilo de que acusam os outros.
Essa hipocrisia não é nova, tampouco exclusiva do PSOL ou da esquerda brasileira. A história está repleta de revolucionários que, ao alcançar o poder, adotaram justamente os hábitos luxuosos que tanto condenavam. Desde os bolcheviques soviéticos, que viviam em dachas enquanto a população passava fome, até os líderes do PT viajando de jatinho em nome do “povo trabalhador”, o padrão é o mesmo: o discurso é de igualdade, mas a prática é de casta privilegiada. O estado serve como trampolim para que supostos representantes da classe oprimida passem a integrar a aristocracia burocrática. Eles não querem destruir o sistema de privilégios: querem apenas controlar a máquina.
Portanto, este caso apenas exemplifica a consequência natural e inevitável de um sistema em que o estado detém poder para extrair recursos da população e distribuí-los conforme interesses políticos. Não importa se o beneficiado se diz "defensor dos pobres" e defende o fim do capitalismo: uma vez dentro da máquina pública, ele passa a usufruir de um regime de monopólio e protecionismo. Assim, a noção de “burguesia” proposta pela esquerda perde sentido, pois a verdadeira elite aristocrática do país são esses políticos e burocratas que vivem às custas de impostos — não os empresários livres expostos à concorrência do mercado. Em última análise, a chamada “luta de classes” acaba sendo transformada em “luta por cargos” entre caciques políticos. A hipocrisia moral se generaliza: de um lado, acusam o empresário livre de explorar; do outro, usam impostos para criar a própria casta privilegiada.
A situação de Erika Hilton e seus maquiadores é apenas um exemplo específico de um fenômeno mais amplo: políticos de todas as legendas costumam se valer das possibilidades do sistema público para obter vantagens. O próprio estado não é nada além de uma ferramenta de apropriação de riqueza alheia. Por meio dos impostos e dos orçamentos públicos, grupos organizados pressionam pelo próprio benefício. Cada novo caso exposto — seja superfaturamento em obras, desvio de verbas, cargos para amigos, uso indevido de passagens ou qualquer extravagância oficial — expõe uma face desse mecanismo. O sistema está montado para isso: deputados contrataram parentes como assessores, senadores utilizaram verbas para bancar diárias em hotéis de luxo, ministros pagaram jantares e festas com cartão corporativo. A esquerda acusa a direita, a direita acusa a esquerda, mas todos bebem da mesma fonte: o dinheiro do pagador de impostos. Não há distinção ideológica quando se trata de aproveitar as mordomias do sistema. É por isso que a corrupção estatal não é uma anomalia, mas sim uma característica inevitável do próprio arranjo institucional.
O problema não são as exceções, são as próprias regras: atualmente no Brasil, cada deputado federal recebe mais de R$ 130 mil por mês para custear até 25 secretários, além de outras regalias como auxílio-moradia, cotas de passagens e verba de gabinete. É um sistema gigante em si mesmo. Por que serão contratados tantos assessores? Em teoria, para dar suporte ao trabalho legislativo e auxiliar o parlamentar a atender demandas. Mas, na prática, essas funções muitas vezes viraram cabides de empregos políticos, repletos de apadrinhados, parentes e amigos, que pouco (ou nada) fazem de produtivo. Cada um dos assalariados desses gabinetes pode ganhar até R$ 18,7 mil mensais pela simples lotação em setor público. Com esse orçamento generoso, sobra dinheiro para ostentar.
Neste contexto, ver uma parlamentar de esquerda financiando maquiadores causou estranheza justamente porque sugere que ela usou parte dessa máquina burocrática para interesses particulares. Não se trata de algum contrato fora da lei — infelizmente, muitas dessas nomeações são tecnicamente permitidas pelos regimentos internos da Câmara, mas é a contradição que chama atenção: enquanto os trabalhadores, que eles dizem defender, enfrentam dificuldades em busca de emprego e pagam impostos apertados, a elite parlamentar se folga com luxos e mordomias, pagos pela parcela produtiva da sociedade.
Quando um político paga maquiadores com verba pública, ele não está apenas sendo incoerente: está esfregando na cara da população a estética do privilégio. É o retrato da corte: enquanto os camponeses produzem e lutam para sobreviver em meio à inflação e falência completa dos serviços públicos, os nobres da república se preparam com spray de cabelo, base e figurino para posar nas redes sociais. O luxo deles, pago por nós, é uma das mais escrachadas e revoltantes formas de exploração, ainda mais revoltante por se travestir de “causa social” ou “representatividade”. É a velha monarquia renascida com hashtag e verba pública.
A própria confiança que grande parcela da população ainda deposita nos políticos está equivocada. Em vez de exigir “mais fiscalização” ou “mais ética”, esperando que o lendário "político honesto" surja e resolva nossos problemas, devemos exigir “menos estado”, “menos impostos” e “menos cargos comissionados”. Se cada parlamentar dependesse do apoio voluntário de seus apoiadores e do orçamento privado de campanha, o problema seria facilmente resolvido.
No lugar do estado crescer mais para fiscalizar e punir excessos, a alternativa libertária é reduzir drasticamente o seu tamanho e abrangência, de preferência até chegar ao zero. Sem secretarias parlamentares pagas por verba pública, sem cargos de confiança desenhados para favorecimento político, esse tipo de escândalo simplesmente não existiria. Num cenário de liberdade econômica, ela até poderia empregar quem quisesse para maquiá-la, mas teria de fazê-lo com dinheiro próprio ou de doadores, e não com o dinheiro confiscado dos cidadãos por meio de impostos. Todo o sistema de verbas de gabinete, cargos comissionados e regalias só existe porque o governo se dá o poder de definir para quem e como gastar o dinheiro dos pagadores de impostos.
Em uma sociedade libertária, não existiriam assembleias legislativas capazes de nomear maquiadores pagos pelo contribuinte. Provavelmente, teríamos organizações privadas de consultoria ou de auditoria independente, e figuras públicas, como Erika Hilton, disputariam prestígio com seus serviços, pelos quais cada cliente pagaria de fato, apenas se quisesse. Se dependesse apenas do livre mercado, qualquer maquiador precisaria convencer alguém a contratá-lo com dinheiro próprio.
A solução, portanto, é clara: menos estado, mais liberdade; menos verba pública em paletós, mais recursos no bolso de quem produz. O foco precisa ser na liberdade individual e na responsabilidade pessoal, não em estatismo que, invariavelmente, resulta nesses escândalos recorrentes. A urgência de um pensamento libertário se torna mais evidente do que nunca.
O problema não se resolve com reforma, controle ou mais "transparência". Essa máquina não pode ser consertada: ela precisa ser abolida. O sistema político estatal é um arranjo de incentivos à corrupção, à demagogia e à apropriação. Não se trata de fiscalizar melhor, mas de acabar com a engrenagem que permite que alguém se eleja prometendo combater privilégios e, em seguida, use a estrutura estatal para financiar o próprio ego. Somente em uma sociedade livre, com contratos voluntários e sem coerção fiscal, a maquiagem volta a ser o que deveria ser: um serviço de mercado, pago por quem realmente deseja consumi-lo — e não um símbolo grotesco da exploração estatal.
https://www1.folha.uol.com.br/poder/2025/06/erika-hilton-contrata-dois-maquiadores-para-sua-assessoria-na-camara.shtml
https://www.gazetadopovo.com.br/republica/acao-maquiadores-oposicao-mpf-erika-hilton/
https://www.poder360.com.br/poder-congresso/erika-hilton-mantem-maquiadores-como-funcionarios-de-gabinete/
https://www.brasil247.com/regionais/brasilia/erika-hilton-nega-contratacao-de-maquiadores-com-verba-de-gabinete-e-diz-ser-alvo-de-perseguicao