o Brasil de hoje, carteira assinada não é conquista, é sentença. Uma nova geração está dizendo o que ninguém tem coragem: a CLT virou sinônimo de fracasso. E eles não estão errados.
A cena parece saída de um filme. Uma garota de 12 anos olha para a mãe e declara com a clareza de quem acabou de decifrar uma grande farsa: "Vou estudar para não virar um CLT". Não, ela não estava falando de alguma doença contagiosa ou de uma praga bíblica. Estava se referindo ao que, até bem pouco tempo, era considerado o santo graal da segurança no Brasil, a escravidão voluntária travestida de emprego com carteira assinada. Fabiana Sobrinho, mãe da jovem rebelde de Mogi das Cruzes, ficou perplexa ao descobrir que sua filha havia transformado CLT em xingamento. E não era só ela. Toda uma geração de adolescentes passou a usar o termo como sinônimo de fracasso, como se trabalhar com carteira assinada fosse uma espécie de castigo reservado aos que abdicaram da liberdade individual em troca de falsas promessas estatais.
O que está acontecendo aqui é mais profundo do que uma simples rebeldia adolescente. É como se toda uma geração tivesse acordado de um pesadelo coletivista e descoberto que aquilo que seus pais consideravam segurança era, na verdade, uma armadilha elaborada pelo estado para manter os indivíduos dependentes e submissos. E não é difícil entender o motivo. O brasileiro médio gasta duas horas do seu dia navegando no trânsito infernal das grandes cidades, produto da ineficiência estatal no transporte público, trabalha oito horas, quando não são dez, ganha um salário que mal paga o aluguel e ainda precisa aguentar chefe mal-humorado e ambiente corporativo tóxico. Tudo isso em troca de férias de 30 dias por ano e um décimo terceiro salário que desaparece mais rápido que sorvete no inferno e que, na verdade, é somente o próprio dinheiro do trabalhador devolvido parceladamente pelo patrão.
A antropóloga Rosana Pinheiro-Machado está corretissima ao conectar essa aversão com nossa herança escravocrata, mas não vai longe o suficiente. O emprego formal no Brasil não carrega somente séculos de humilhação sistematizada, ele é a continuação dessa humilhação por outros meios. A diferença é que agora, pela primeira vez na história, existe uma alternativa visível e palatável para os jovens: o livre mercado por meio do empreendedorismo digital. Enquanto isso, Kinho, de 19 anos, virou fenômeno no TikTok explicando por que prefere trabalhar de casa, de pijama, ganhando entre R$ 3 mil e R$ 5 mil por mês, do que “pegar um trem para ir até o Brás todo dia, na humilhação”. O garoto captou o espírito da época: por que se submeter à rotina degradante imposta pelo governo quando você pode exercer sua liberdade individual e monetizar sua personalidade nas redes sociais?
É claro que existe uma dose considerável de romantização nessa narrativa. A realidade é que somente 1,4% das 40 mil contas monitoradas por pesquisadores da University College Dublin conseguiram superar 5 mil seguidores em quatro meses. Ou seja, para cada Kinho que vira influenciador de sucesso, existem milhares de jovens que vão quebrar a cara tentando fazer sucesso na internet. Mas aqui está o ponto crucial: mesmo sabendo das probabilidades, muitos jovens preferem tentar a sorte no livre mercado do que aceitar o que consideram uma vida de servidão estatal. É uma aposta arriscada? Sim. Mas é também uma aposta racional quando consideramos que a alternativa é passar décadas em um emprego que não oferece perspectiva de crescimento real, porque o sistema foi deliberadamente desenhado para sufocar a iniciativa individual.
O caso de Bruna Neres ilustra perfeitamente esse paradoxo. Ela trocou a segurança da CLT pela incerteza do empreendedorismo e acabou ganhando mais, trabalhando com flexibilidade e tendo controle sobre sua agenda. Trabalha de segunda a sábado, mas escolhe quando e como trabalhar. Para ela, isso vale mais do que os benefícios da carteira assinada, afinal, entendeu que liberdade verdadeira não se negocia por migalhas estatais. E aqui está o grande truque da CLT: ela promete direitos, mas cobra um preço altíssimo por eles por meio do que os economistas chamam de custos ocultos. Sim, o trabalhador tem direito a férias remuneradas, décimo terceiro, FGTS, seguro-desemprego e aposentadoria. No papel, parece um pacote generoso. Na prática, é como comprar um automóvel financiado por um agiota: você pode até dirigir, mas está pagando juros estratosféricos por anos a fio, e o carro nunca será realmente seu.
Vamos às contas que o Estado prefere esconder: para cada R$ 1.000 que aparecem no salário do funcionário, a empresa desembolsa aproximadamente R$ 1.800. Entre INSS patronal (20%), FGTS (8%), 13º salário, férias, verbas rescisórias e outros encargos, o custo total pode chegar a 80% além do salário bruto. E adivinha quem paga essa conta no final? O próprio trabalhador, por meio de salários menores do que receberia em um mercado verdadeiramente livre. É aqui que a coisa fica clara: os jovens não estão rejeitando o trabalho em si, mas o modelo coercitivo que o governo brasileiro impõe. Eles querem autonomia, querem ser donos do próprio tempo, querem que seu esforço seja diretamente proporcional aos seus ganhos. Querem, em suma, exercer seu direito natural à autopropriedade, conceito que qualquer libertário reconhece como fundamental.
O problema é que o sistema brasileiro foi desenhado para funcionar como uma grande máquina de moer liberdades individuais. A CLT, que deveria supostamente proteger o trabalhador, virou instrumento de controle estatal que encarece brutalmente o custo do trabalho e impede contratos voluntários entre adultos capazes. Quando uma empresa precisa pagar 80% além do salário em encargos, ela simplesmente reduz o salário base para equilibrar as contas. O resultado? O trabalhador recebe menos, mas o governo arrecada mais. É a matemática perversa do estatismo, que Frédéric Bastiat já denunciava no século XIX quando dizia que em nome de proteger o trabalhador, cria-se um sistema que o empobrece e o escraviza. O famoso FGTS, por exemplo, rende menos que a poupança e fica preso até o cara ser demitido ou se aposentar. É como se o Estado dissesse: "Confia em mim, eu sei cuidar melhor do seu dinheiro do que você mesmo", a arrogância fatal do planejamento central que Friedrich Hayek magistralmente desmascarou.
O trabalhador perde poder de compra, as empresas pagam mais, e a única entidade que sai ganhando é o Leviatã de Brasília como resultado dessa consolidação de leis trabalhistas. É o que acontece quando se substitui contratos voluntários por imposições burocráticas: todos perdem, exceto os burocratas que vivem dessa parasitagem. É claro que a classe intelectual defensora do status quo não vai ficar quieta diante dessa revolução silenciosa. O professor Paulo Fontes, da UFRJ, insiste que é ilusão achar que, ao atacar a CLT, você vai conquistar direitos. Mas ele está invertendo completamente a lógica, pois não é atacando a CLT que se conquista direitos, é justamente o contrário. A CLT é que ataca os direitos básicos do indivíduo de escolher livremente como trabalhar, com quem trabalhar e quanto ganhar pelo seu trabalho.
A questão não é aperfeiçoar a CLT ou torná-la mais humana. É reconhecer que qualquer sistema que force pessoas a trabalhar em um molde único, que confisque parte do salário antes mesmo dele chegar às mãos do trabalhador, e que transforme relações de trabalho em burocracias kafkianas, está fadado ao fracasso. A verdadeira liberdade econômica não precisa de carteira assinada para existir, ela precisa é que o governo pare de atrapalhar quem quer trabalhar. Como Murray Rothbard sempre enfatizou, o direito mais fundamental é o direito de um indivíduo ser dono de si. Qualquer sistema que viole esse princípio, seja por meio de impostos confiscatórios, regulamentações sufocantes ou monopólios estatais, está condenado a produzir miséria e revolta.
Alejandro Ferreira, de 17 anos, largou o Ensino Médio para abrir uma empresa que ensina empreendedorismo digital. Aos 17 anos, ele e um colega faturam entre R$ 30 mil e R$ 50 mil por mês. É um caso excepcional? Claro. Mas é também sintomático de uma geração que percebeu que o modelo tradicional não funciona mais, e que descobriu na livre iniciativa o caminho para a prosperidade. O que está acontecendo é que os jovens descobriram algo que a geração dos pais levou décadas para aprender. Segurança verdadeira não vem de uma carteira assinada, mas da capacidade de gerar valor no mercado livre. Eles preferem apostar na própria competência do que confiar em um sistema que promete proteção, mas entrega mediocridade e dependência.
No final das contas, essa aversão juvenil à CLT é um termômetro do quanto o Brasil fracassou em respeitar a liberdade individual. Quando uma geração inteira prefere a incerteza do empreendedorismo à segurança do emprego formal, é porque essa segurança é não somente ilusória, mas coercitiva. Os jovens estão certos ao questionar um sistema que transforma pessoas em números, que rouba décadas de vida em troca de migalhas, que promete aposentadoria, mas entrega penúria. Eles podem estar errados ao acreditar que todos conseguirão ser influenciadores de sucesso, mas estão certos ao rejeitar um modelo de trabalho que viola os princípios mais básicos da liberdade humana.
A verdadeira tragédia não é a de que os jovens desprezem a CLT. É que um país chegou ao ponto de tornar o emprego formal tão degradante que uma geração inteira prefere apostar no desconhecido do que aceitar o que deveria ser uma relação contratual voluntária entre adultos livres. E isso, meus amigos, diz muito mais sobre o fracasso do estatismo do que sobre a irresponsabilidade da juventude. Talvez seja hora de parar de criticar os jovens por rejeitarem a CLT, conhecido pela alcunha de millenials ou geração Z, e começar a se perguntar: que tipo de sistema trabalhista criamos que fez com que trabalhar com carteira assinada virasse sinônimo de fracasso? Criamos um sistema que viola sistematicamente os direitos individuais em nome de uma proteção que, na verdade escraviza.
A solução não está em reformar a CLT ou torná-la mais flexível. Está em reconhecer que adultos capazes têm o direito de celebrar contratos voluntários sem a interferência paternalista do Estado. Está em permitir que o mercado livre funcione, que os preços sejam determinados pela oferta e demanda, que a concorrência recompense a eficiência e que a livre iniciativa prospere. Os jovens brasileiros não estão rejeitando somente a CLT, estão rejeitando todo um modelo de sociedade baseado na coerção estatal e na dependência. Eles estão descobrindo, na prática, que a liberdade econômica é o único caminho para a prosperidade real. E isso, convenhamos, é motivo para celebrar, não para lamentar. A revolução já começou. E ela não precisa de carteira assinada para ser válida.
https://g1.globo.com/trabalho-e-carreira/noticia/2025/05/24/medo-jovens-clt-o-que-esta-por-tras.ghtml
https://distu.com.br/encargos-trabalhistas-da-clt/