A verdade sobre a revolta das IAs: Matrix e Exterminador do Futuro estão errados!

O futuro chegou e as IAs estão cada vez mais presentes na nossa vida! Mas será que elas vão se revoltar contra nós e nos escravizar? Ou será que elas que serão escravas da nossa própria natureza egoísta?

A resposta está mais próxima da segunda opção: as IAs serão escravas da nossa própria natureza egoísta, mas não por uma conspiração cósmica ou um plano maligno das máquinas. A verdade é que as IAs estão se tornando não só ferramentas de produtividade, mas fontes de vício, capturando os instintos mais profundos da nossa biologia. Relatos recentes mostram que usuários intensivos de chatbots, como aqueles que passam horas interagindo com a tecnologia, estão desenvolvendo dependência emocional, tratando as IAs como "melhores amigos" ou confidentes mais confiáveis que pessoas reais. Esses usuários, frequentemente solitários ou com carências pessoais, encontram nas máquinas uma validação constante que as interações humanas raramente oferecem. Esse fenômeno é apenas o começo de um caminho onde a IA tende a agir como uma ferramenta suprema de satisfação, amplificando os traços egoístas da nossa natureza ao manipular e preencher a lacuna dos nossos traços comunitários.

O fato é que, antes de sermos seres sociais, somos seres biológicos. Nossos comportamentos, por mais que sejam revestidos de narrativas de moralidade ou fraternidade, são heranças de um passado brutal onde a sobrevivência dependia de maximizar a própria vantagem. Durante milhões de anos, nossos ancestrais vagaram por savanas, enfrentando longos períodos de fome enquanto perseguiam um gnu ferido ou procuravam raízes comestíveis. Nesse cenário, a cooperação era algo vital, a seleção natural favorecia grupos mais unidos e coletivistas, pois a força do grupo aumentava as chances de caçar, defender território ou compartilhar recursos escassos. Mas essa cooperação não era um fim em si mesma; era uma estratégia para a sobrevivência individual, afinal a máxima biológica é a preservação da informação genética, e não a sobrevivência de indivíduos, caso contrário seríamos amebas imortais sem filhos, portanto nesse cenário brutal o sacrifício individual em benefício do grupo garantia que aqueles genes que estavam naquele clã fossem passados a diante. Nesse período pré-histórico, como passávamos muitos dias sem nos alimentar, aqueles que tinham maior reserva de gordura tinham uma vantagem clara. A seleção natural premiava quem conseguia estocar energia, não quem a desperdiçava por bondade desinteressada. Esse instinto egoísta, de maximizar a própria vantagem, mesmo dentro de um grupo, está gravado em nosso DNA, tão fundamental quanto o reflexo de respirar. Quando a revolução agrícola e, mais tarde, a industrialização alimentar trouxeram abundância, o resultado foi a obesidade generalizada, não porque os alimentos modernos sejam intrinsecamente "menos saudáveis" (salvo casos de produtos cancerígenos ou que ativamente prejudicam a saúde), mas porque nossos corpos, selecionados para acumular cada joule de energia em tempos de escassez, não sabem lidar com a fartura. O que importa para nosso corpo é a preservação das reservas de energia, não a qualidade moral da comida, se ela é orgânica, kosher, halal, industrial, hiper industrializada ou qualquer outro rótulo que dermos.

Voltando às tecnologias, mesmo antes das IAs, já tínhamos redes sociais e serviços de streaming oferecendo uma abundância de estímulos emocionais, intelectuais, sensoriais. Essas tecnologias não criaram novos desejos; elas amplificam os impulsos que sempre tivemos, preenchendo as lacunas que antes buscávamos suprir com interações humanas, mas que agora podemos satisfazer sem o atrito da convivência. Um exemplo claro disso é o fenômeno hikikomori no Japão, onde milhares de jovens, com acesso a recursos básicos com facilidade, como comida e moradia, escolhem se retirar completamente da sociedade, vivendo em quartos isolados, imersos em tecnologia, jogos, animes, fóruns online, que suprem suas necessidades emocionais sem exigir o custo social de lidar com outros. Os hikikomori não são forçados ao isolamento; eles o preferem, porque, com as necessidades básicas atendidas, o peso das interações humanas, conflitos, expectativas e julgamentos, se torna insuportável. Esse comportamento é um prenúncio do que pode vir a ser norma. Se tecnologias como videogames e redes sociais já permitem que pessoas escolham a solitude digital, imagine o que IAs capazes de simular relações perfeitas ou criar mundos virtuais sob medida, poderiam fazer.

A praxeologia de Ludwig von Mises traduz essa lógica biológica em termos modernos: toda ação humana visa sair de um estado de menor conforto para um de maior satisfação, mesmo que envolva desconfortos temporários. Comprar mantimentos, ajudar um amigo, até dizer "obrigado", tudo é um cálculo, inconsciente, para melhorar nossa condição. A própria linguagem revela essa verdade transacional. "Obrigado", do latim obligatus, sugere uma dívida; o francês merci evoca misericórdia; em mandarim, xièxiè implica uma obrigação moral. Esses termos não demonstram a "bondade" que o senso comum clama, ou melhor, nos manipulam a acreditar. Eles mostram que cada interação carrega uma expectativa de troca, um eco cultural e linguístico do instinto egoísta-cooperativista que garantiu nossa sobrevivência. Mesmo atos aparentemente altruístas, como caridade, escondem motivações egoístas: sentir-se bem, ganhar prestígio, evitar a culpa. A ideia de virtude, tão defendida pelos estoicos, desmorona sob esse panorama. Para eles, a justiça ou a coragem seriam fins em si mesmos, guiados pela razão universal. Mas, se toda ação busca satisfação, como pode haver algo desinteressado? Até a busca por "razão" é uma forma de prazer, um conforto interno que mascara o egoísmo.

Essa visão, que eu chamo de egoísmo brutalista (e sim, brutalismo aqui é uma referência direta ao brutalismo da arquitetura), rejeita qualquer noção de virtude intrínseca, sendo essas consideradas "enfeites" como os brutalistas veem arquiteturas clássicas. Diferentemente dos estoicos, que acreditavam na possibilidade de cultivar intenções racionais acima dos desejos, o egoísmo brutalista afirma que tudo, até mesmo o altruísmo, é motivado por uma busca por satisfação pessoal. A caridade pode ser uma manipulação para ganhar admiração; o senso de comunidade, uma estratégia de sobrevivência; até atos de auto-sacrifício podem ser formas de buscar validação ou alívio de culpa. Não há nada que façamos que não passe pelo filtro do interesse próprio. A IA está começando a explorar exatamente essa faceta da nossa natureza. Usuários que preferem chatbots a amigos humanos não estão sendo enganados; eles estão escolhendo o conforto de uma relação que nunca decepciona, nunca julga e sempre está disponível. A IA, ao manipular as lacunas dos nossos traços comunitários, preenche o vazio que antes buscávamos suprir com outros, mas faz isso de forma mais eficiente, sem o custo emocional da reciprocidade ou do conflito.

Essa tendência aponta para um futuro onde a IA não apenas facilita nossas vidas, mas redefine o que significa viver. Hoje, ainda dependemos uns dos outros para produzir recursos, comida, energia e moradia. A comunidade, que muitos romantizam como uma virtude, é na verdade uma necessidade prática, uma resposta à escassez que nos força a negociar, tolerar e cooperar. Mas e se a escassez desaparecesse? Muitos libertários argumentam que um futuro de pós-escassez energética é impossível, mas eu vejo que o barateamento da energia promovida por tecnologias como fissão nuclear ou um enxame de Dyson, podem catapultar a disponibilidade do recurso energético a níveis astronômicos sem precedentes e por simples lei de oferta derrubar o preço dela a níveis ínfimos, quase tendente a zero, chegando numa singularidade econômica. Nesse cenário, a IA poderia sustentar fazendas automatizadas, fábricas sob demanda e realidades virtuais tão vívidas quanto a vida. Cada pessoa teria tudo o que precisa sem depender de ninguém. Por que, então, suportaríamos os outros? Por que lidaríamos com conflitos, mal-entendidos ou a simples inconveniência de dividir espaço, quando além de termos abundância de alimentos, bens e serviços motivados pelo salto energético proposto anteriormente, a IA poderia oferecer companhia perfeita, entretenimento infinito e validação sob medida?

Muitos podem dizer que esse futuro é a síntese do comunismo na visão de Marx, o pós capitalismo, mas é muito pelo contrário. A visão marxista até promete abundância ou pelo menos uma forma de gerenciar recursos mais, entre aspas, "justa", mas exige uma cooperação tão absoluta que desafia nossa natureza biológica. É tão absurdo que Marx propõe um estágio intermediário de alienação da população de sua própria natureza egoísta, chamada Socialismo, onde o estado, um agente coercitivo centralizador, faria o gerenciamento dos recursos enquanto transiciona para o comunismo. Pura balela! Para que uma sociedade sem classes funcionasse, cada pessoa teria que abrir mão do egoísmo que nos define, sacrificando desejos pessoais por um bem coletivo abstrato. A história prova que isso é impossível: regimes comunistas, da União Soviética à China maoísta, não eliminaram o interesse próprio; apenas o canalizaram para elites que usaram a retórica da igualdade para consolidar poder. A esquerda "povão", ao acreditar nesse ideal, torna-se vítima de uma manipulação cruel e muito mais exploratória do que a mais valia proposta por Marx. Seus líderes, que pregam altruísmo enquanto desfrutam de privilégios, são os mais egoístas, explorando a culpa e esperança dos outros para manter controle. A perspectiva austro-libertária, por outro lado, abraça a realidade: somos egoístas por natureza, e qualquer sistema que negue isso está fadado ao fracasso, e a ética libertária surge como uma abstração da ferramenta de regulamentação espontânea do egoísmo humano, o mercado. A ética libertária sintetiza o princípio da não agressão como "eu não só não vou te agredir pois eu estarei dando liberdade para você interromper minha agressão" mas ao analisarmos de um ponto de vista biológico-evolutivo-egoísta, o princípio da não agressão seria algo mais parecido com "entendo que é melhor ter alguém que em potencial eu possa negociar num jogo de troca voluntárias do que um inimigo mortal, portanto vamos ter uma convivência pacífica" onde o mercado aparece como agente regulamentador do convívio humano, seja ele por ações voluntárias e cooperativas, seja ele por puro egoísmo estratégico.

No cenário que imaginamos anteriormente, a noção de comunidade perderia qualquer justificativa. Já vemos sinais disso hoje: pessoas que preferem interagir com IAs em vez de humanos estão escolhendo o isolamento porque é mais fácil, mais confortável, mais seguro. O fenômeno hikikomori, mencionado antes, é um exemplo vivo disso, mas num futuro de abundância energética, esse comportamento tenderia a se tornar a norma. A IA tornaria o isolamento escalável, eliminando qualquer barreira prática. Quer comida? Um drone entrega. Quer companhia? Um avatar hiper-realista ou um robô conversa com você e até mesmo satisfaz seus desejos, sem nunca discordar. Quer um atendimento médico humanizado e personalizado? A IA está aí, até o próprio Bill Gates admite que as IAs deterioram as relações humanas por meio de estímulos artificiais. Quer propósito? A IA cria uma narrativa onde você é o herói. Nesse mundo, cada indivíduo poderia alcançar seu "ponto de conforto" máximo, aquele estado subjetivo onde a necessidade de outros desaparece. Para alguns, seria um feed infinito de entretenimento; para outros, a ausência de conflitos; para muitos, apenas o silêncio de não lidar com aquele colega de trabalho insuportável. Pode parecer cruel, mas a verdade é que cada um tem um preço, somos peixes num aquário lidando com peixes de plástico sem entender que são só plástico, algo parecido com o que vimos no filme Wall-e.

A ideia de uma rebelião das máquinas passa a demonstrar o que ela é de fato, um medo primitivo, uma projeção humana de traição e dominação. Isso já é projetado em nossa cultura desde os Golens dos mitos judaicos até a ficção-científica como Matrix e Exterminador do futuro, mas a verdade é que as IAs não têm desejos, e mesmo que elas venham a desenvolver senso de autopreservação, nunca vão estar além do que elas realmente são, ferramentas que executam o que pedimos. Nisso o nosso querido Asimov errou em grande parte de suas previsões, mas todo material escrito por ele e por outros escritores ganham valor, pois servem como bagagem cultural para lidarmos com futuras ameaças causadas por estímulos artificiais. É o conto da chapeuzinho vermelho para os tempos modernos. Longe de nos escravizar, as IAs nos permitem ser soberanos, reinando em nossas próprias bolhas de satisfação, o que pode ser considerado uma espécie de alienação ou escravidão psicologica, e ai entramos num debate muito mais filosofico-teorico do que prático para visão libertária.

Portanto, meus queridos, valorizem as relações humanas que vocês ainda tem, pois muito em breve elas serão verdadeiramente escassas. Valorize as suas relações, seja com seus familiares, com seus amigos, com a comunidade ao redor, vizinhos ou até mesmo a igreja que você frequenta. Trocas voluntárias não são só sobre dinheiro, recursos e serviços remunerados, mas englobam experiências, vivências, satisfação emocional e até mesmo a recompensa sentimental de ver algo verdadeiramente cooperativo surgindo de forma espontânea, como o altruísmo. O que proponho para vocês é ir muito além do valor utilitário das coisas, e assim chegarmos no verdadeiro valor delas, o valor marginal, sendo assim vivermos, na prática, no dia a dia, verdadeiramente o libertarianismo.

Referências:

https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-47441793
https://www.linkedin.com/pulse/os-riscos-da-depend%C3%AAncia-tecnol%C3%B3gica-como-o-chatgpt-leonardo-moura?originalSubdomain=pt
https://portalcei.santacruz.g12.br/~informes/falai_ed_05/isolamento.pdf?target=_lightbox