Enquanto os Correios registram novo prejuízo e ameaçam os serviços postais, o governo insiste em manter a estatal de pé com o dinheiro do pagador de impostos. A única solução real é a privatização.
Os Correios, uma das estatais mais antigas do Brasil, voltaram a estampar as manchetes em 2025, novamente pelos motivos errados. A empresa acumula déficits bilionários, perda de competitividade e incapacidade de se modernizar, ao mesmo tempo em que continua servindo de instrumento político para governos que usam sua estrutura como cabide de empregos e máquina de poder. A crise atual não é episódica, mas um retrato da falência do modelo estatal de prestação de serviços.
O caso ilustra de forma didática o que acontece quando o governo insiste em ocupar funções que deveriam ser exercidas pelo mercado. Em vez de competir, inovar e buscar eficiência, a estatal vive de repasses, subsídios e da esperança de que o trabalhador continue bancando suas falhas. O discurso oficial fala em “garantir universalização do serviço” e “proteger a soberania nacional”, mas o que realmente se protege é o cabide de empregos, os cargos comissionados e a máquina de indicações políticas.
Nos números oficiais, o quadro é alarmante. Só no segundo trimestre de 2025, os Correios registraram um prejuízo de R$ 2,64 bilhões — quase cinco vezes maior do que o déficit do mesmo período em 2024. No acumulado do semestre, o rombo chega a R$ 4,37 bilhões, triplicando o prejuízo do ano anterior. E a receita também encolheu: queda de 11,3% na comparação com 2024. O setor de postagem internacional, antes promissor com o avanço do e-commerce, despencou 63,6% em relação ao ano passado, trazendo apenas R$ 422 milhões no período.
Essa crise não nasceu ontem. Os Correios já foram alvos de escândalos de corrupção emblemáticos, como o que desencadeou o mensalão no início dos anos 2000. Desde então, a estatal nunca conseguiu se recuperar de verdade. O crescimento do e-commerce, que deveria ter sido uma oportunidade de ouro, foi desperdiçado: empresas privadas, mais ágeis e competitivas, ocuparam espaços que antes eram cativos da estatal. Transportadoras, startups logísticas e até aplicativos de entrega demonstraram na prática que é possível garantir entregas rápidas e confiáveis — algo que os Correios não conseguem assegurar nem dentro das grandes capitais.
Em 2025, o problema é ainda mais grave, porque não se trata apenas de déficit contábil. O prejuízo mina a capacidade da empresa de investir em tecnologia, renovar sua frota ou modernizar sua estrutura. O resultado é um círculo vicioso: menos investimento leva a mais ineficiência, mais ineficiência gera mais insatisfação dos clientes e perda de mercado, o que, por sua vez, aumenta o prejuízo. E quando a estatal entra em colapso, quem paga a conta é o pagador de impostos, que não pode simplesmente “deixar de contratar os Correios”, já que parte do serviço postal ainda é monopólio da estatal.
Ademais, estes dados apenas confirmam o que todo brasileiro que já enfrentou filas intermináveis, atrasos em entregas ou extravios de encomendas já sabia de cor: os Correios são um poço sem fundo de ineficiência. Como toda estatal, a impossibilidade da alocação racional de recursos leva, inevitavelmente, a prejuízos sem fim. Não é um acidente de percurso ou um ano atípico, mas o resultado inevitável de décadas de aparelhamento político, monopólio garantido por lei e ausência de incentivos à eficiência.
Curiosamente, enquanto as receitas caem, contudo, as despesas disparam. O custo com pessoal aumentou com reajustes e gratificações, e os passivos judiciais explodiram: foram R$ 1,2 bilhão em precatórios só no segundo trimestre, um aumento de mais de 800%. Some-se a isso a manutenção de uma estrutura gigantesca, com mais de 10 mil agências de atendimento e cerca de 1.100 unidades de tratamento e distribuição, cuja capilaridade serve mais para sustentar o peso da burocracia do que para gerar eficiência logística.
A estatal justifica a crise apontando a “falta de investimentos” dos últimos governos, mas esse discurso esconde a verdade: não há investimentos que resistam quando o modelo de negócios é travado por monopólios legais, amarras políticas e ingerência sindical. O problema dos Correios não é circunstancial, é estrutural. O monopólio de entrega de cartas e correspondências bloqueia a concorrência, mas não garante sustentabilidade. Pior: protege a ineficiência e perpetua privilégios, ao mesmo tempo em que impede que empresas privadas inovem ou disputem espaço em igualdade de condições.
O que se mostra, na verdade, é que a intervenção política só agrava o cenário. Presidentes indicam dirigentes de acordo com conveniências partidárias, não por mérito ou visão estratégica. Os Correios já foram usados como moeda de troca em negociações no Congresso, como cabide de empregos para partidos aliados e até como fonte de escândalos de corrupção. Em vez de operar como uma empresa moderna, adaptada ao mercado digital e ao avanço da logística privada, funciona como peça de barganha do estado.
Os defensores da estatização insistem no argumento da “função social” dos Correios, afirmando que só a estatal garante entregas em regiões remotas. Mas isso é falso: em vez de abrir espaço para competição e inovação, o governo segura os Correios como um zumbi estatal — morto para o mercado, vivo apenas porque se alimenta do orçamento público - e isto é justamente a causa do problema que os estatistas prometem resolver. Na prática, basta observar como companhias de energia, telefonia e até internet chegam a municípios isolados. Se há demanda, o mercado encontra uma forma de atender. Se não há, não faz sentido obrigar todos os brasileiros a financiar algo ineficiente e desnecessário.
Do ponto de vista libertário, os Correios são mais um exemplo do fracasso do modelo estatal. O governo não tem incentivos para inovar, cortar custos ou prestar bom serviço. Pelo contrário, tem todos os incentivos para manter privilégios, barganhar cargos e usar a empresa como instrumento político. O resultado é o que vemos hoje: uma estatal defasada, endividada e incapaz de competir.
Para além da eficiência econômica, há um outro ponto ainda mais central: a liberdade de escolha. Hoje, o cidadão não pode decidir plenamente quem entregará sua correspondência, pois boa parte do setor está blindada por monopólio legal. Privatizar os Correios significa devolver ao indivíduo o poder de optar pelo serviço que melhor lhe atenda, sem ser obrigado a financiar com seus impostos uma estatal que se afunda em dívidas.
A solução não está em planos de “reestruturação”, em mais subsídios ou na promessa de digitalização estatal. O caminho verdadeiro é a privatização completa, acompanhada da abertura irrestrita do mercado postal e logístico. Só a concorrência é capaz de obrigar empresas a serem mais eficientes, reduzir preços e melhorar serviços. Enquanto o governo insistir em manter os Correios de pé, não por mérito, mas por decreto, a tendência será de mais prejuízos e mais ônus para a população.
Portanto, a privatização traria ganhos claros: redução do peso para o pagador de impostos, estímulo à competição, investimentos em inovação tecnológica, profissionalização da gestão e fim do uso político da empresa. Significaria cortar um dos tentáculos do estado que se arrasta com ineficiência há décadas. Mais do que aliviar o caixa da União, seria uma medida de respeito ao cidadão, que deixaria de ser refém de uma estrutura falida.
Os Correios, enfim, são hoje o retrato daquilo que os libertários sempre denunciaram: um modelo estatal pesado, politizado e ineficiente, incapaz de competir em um mundo em que o comércio eletrônico exige velocidade e confiabilidade. Cada bilhão de reais de prejuízo é um lembrete de que a conta recai sobre os contribuintes, que pagam caro por um serviço ruim.
Em última análise, os Correios são apenas um sintoma de um problema maior: a ilusão de que o estado deve ser empresário. Experiências mundo afora demonstram que quando o governo se mete a gestor, o resultado é sempre o mesmo: ineficiência, desperdício e, no fim, mais impostos para sustentar o que não funciona. O Brasil tem a chance de cortar esse ciclo vicioso. Mas para isso é preciso coragem política — coragem de enfrentar sindicatos, lobbies e interesses enraizados. Enquanto isso não acontecer, o brasileiro continuará pagando caro para sustentar um serviço cada vez pior.
https://www.poder360.com.br/poder-governo/prejuizo-dos-correios-no-1o-semestre-de-2025-supera-2024-inteiro
https://revistaoeste.com/economia/correios-atribuem-crise-a-falta-de-investimentos-no-governo-bolsonaro/
https://www.otempo.com.br/economia/2025/9/6/crise-dos-correios-se-agrava-com-prejuizo-de-r-2-6-bi-um-rombo-cinco-vezes-maior-que-em-2024